Paz e ecologia

Dom_Orani

ARCEBISPO DO RIO DE JANEIRO

No dia 1º de janeiro, celebramos a Solenidade da Maternidade Divina de Nossa Senhora e também o Dia Mundial da Paz. Podemos, sem dúvida, ver nexos profundos entre as duas celebrações. Com efeito, a garantia de que o bem e a paz vencem o mal e a violência vem-nos d’Aquele que, sendo Deus, nasceu como homem do seio de Maria. Ele é o “Príncipe da Paz”. A Virgem, por sua vez, viu serem realizadas em si mesma e em favor do povo de Deus grandes maravilhas. Ela, que acreditou, é exemplo para cada um de nós e para a sociedade como um todo de que a esperança em Deus não decepciona. De fato, tudo pode ser mudado pela fé e pela confiança de que não estamos sozinhos na empreitada da construção da paz. A fé é uma disposição para acatar a vontade de Deus em nossas vidas, disposição capaz de renovação e transformação.

Maria, por causa de sua fé e de sua adesão incondicional a Deus, pôde contemplar as maravilhas que só Deus, atuante em nossas vidas, pode realizar.

O Santo Padre Bento XVI, em sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz, tratou do tema da preservação do meio ambiente. A natureza, afinal, é o nosso grande e comum lar neste mundo, e, como tal, merece nosso cuidado. A nossa paz, e, sobretudo, a das gerações futuras, depende do nosso bom relacionamento com a obra da criação de Deus. Mas nossos clamores e ações em favor da preservação da natureza só serão eficazes se, de fato, houver uma mudança de mentalidade.

É urgente reavaliar nossa concepção de desenvolvimento.

Não menos urgente é uma visão adequada do ser humano, uma vez que existe também, como diz Bento XVI, uma “ ecologia humana”.

O desenvolvimento não pode basear-se na sede desenfreada de lucro a qualquer custo. Não deve consistir apenas em uma questão de estratégia para o acúmulo de bens materiais, às vezes deixando à margem ou na exclusão uma ampla parcela de povos empobrecidos e miseráveis. Não pode também restringirse aos aspectos materiais da vida humana. É urgentíssimo que aprendamos ou reaprendamos o que significa “desenvolvimento integral”.

Este está atento a todas as dimensões do ser humano e às suas relações fundamentais com o mundo, o outro e Deus.

A noção de pessoa é de fundamental importância para a correta compreensão de quem é o homem. O homem é pessoa, isto é, é dotado de uma dimensão espiritual, pela qual pode reconhecer a verdade, o bem e a beleza; pode desejar o Absoluto e aceitá-lo como dom em Jesus Cristo; pode amar os semelhantes e cuidar do mundo no qual habita.

Nossa atual civilização, dominada pela técnica, corre o grande risco de esquecer-se da dignidade pessoal do homem, transformandoo em meio para fins ou em simples máquina a serviço do bem da tecnologia. Uma cultura para a qual só existem valores técnicos priva o homem de reconhecer sua verdadeira grandeza, porque o afasta de sua própria interioridade e da capacidade de contemplar desinteressadamente a beleza da existência.

Quero aqui desejar a todos, particularmente aos meus arquidiocesanos da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, buscando a cada dia reconciliação e renovação espiritual, a paz que vem da fé e da confiança em Deus; a paz que podemos construir pelo reconhecimento dos valores fundamentais; a paz que acontecerá na medida em que buscarmos e soubermos receber como dom a verdade sobre nós mesmos. Maria Santíssima, com o seu sim, seja nossa inspiração. Como Ela um dia cantou, possamos cantar também no ano que se inicia: “Grandes coisas o Poderoso fez em meu favor” (Lc 1,49).

Feliz e abençoado 2010 para todos nós!O desenvolvimento não pode basear-se na sede desenfreada N de lucro

fonte: Jornal do Brasil